O imortal e genial Nelson Rodrigues proferiu uma frase definitiva dirigida ao
“criativo” povo do teatro : “Sejam burros”.
Toda a vez que ele via o que alguns diretores faziam com suas peças (com
montagens cheias de “inovações”) ele se perguntava : por que não simplesmente
contar uma história, sem grandes arroubos e invencionices ?
Por que tanta
“criatividade”? Como fica a boa e velha narrativa?
Este pensamento ficou o tempo todo na minha cachola ao ver a falcatrua
cometida ontem na Alvaro Moreira com a “morte” da “A morte de Ivan Ilitch”
perpetrada pela atriz e diretora Cácia Goulart, num monólogo dramático (de 1h 40
minutos !! – haja paciência e sono ) adaptado da excepcional novela de Liev
Tolstoi.
Que pé no saco.
Eu tenho uma relação muito pessoal com “A morte de Ivan Ilitch”. Para mim uma
das obras humanas mais perfeitas realizadas. Li três vezes o livro e certamente
lerei outras tantas. Pode-se dizer que é um dos livros fundamentais da minha
vida. Então foi com a expectativa lá nas nuvens que adentrei o teatro.
Mas que rasteira.
Em termos visuais a iluminação é maravilhosa e o cenário é altamente plástico
e eficiente.
Mas o texto ? MÉLDÉLS !! Tu te pergunta : será que a artista leu o livro? De
onde ela conseguiu extrair tanta bobagem? O que tem a ver aquele Ivan mostrado
no palco com o do livro? Por que tanto grito e angústia? Por que tanto
contorcionismo? Cadê a história? Meu companheiro, que não leu o livro, ficou
boiando em várias passagens (como a do “Caio”, por exemplo).
É claro que todo o assim chamado "artista" tem que “transgredir”, “inventar”, “instigar”
(..meu saco de vômito, por favor..), para provar seu “talento”, e por isto
acha-se no direito de “recriar” , “reinterpretar” qualquer clássico, e,
consequentemente, cometer as maiores imbecilidades possíveis (que aliás o povo
do teatro “adora”).
Esta montagem do “Ivan” é praticamente uma cartilha passo a passo de como
cometer merda no palco.
O que foi engraçado foi ouvir o diálogo de duas velhinhas próximas. Uma tri
indignada ficava cutucando a companheira : “Mas este não foi o livro que tu me
emprestou!”. “A história não era assim”. “Não to entendendo”, e por aí vai. E a
outra não sabia o que responder. Nem eu saberia.
Para mim a cena que resume o “espetáculo” é quando a atriz (muito “corajosa” e "desinibida")
escarra num penico.
E ai eu pensei : finalmente ela tá mostrando sua “proposta”,
escarrando em Tolstoi, em Ivan Ilitch e no público.
Realmente resume tudo.
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