“Fui abusado na infância”. Só quando consegui pronunciar esta frase para minha mulher, aos 42 anos, é que pude começar a viagem em busca de meu passado. Ele estava enterrado pelo sofrimento, pela vergonha e pelo medo de falar. O silêncio é o melhor amigo da pedofilia.
Não sofri um abuso apenas sexual – o que já seria muito. Também fui abusado moral e psicologicamente. Sofri violência física. Minha família foi induzida à mentira e aos subterfúgios que me afastaram de meus pais e meus irmãos. Quase perdi minha mulher que é tudo para mim.
A história começa quando eu, ainda menino, comecei a cantar no coral da cidade onde morava com meus pais e meus seis irmãos (...)”
Assim começa “Sem medo de falar – Relato de uma vítima de pedofilia” (Paralela – 2014) de Marcelo Ribeiro, onde o autor, num corajoso exercício de resgate da sua integridade, relata os abusos físicos, morais e sexuais que viveu sob o jugo do sórdido maestro do coral (vinculado à Igreja Católica), de uma cidade do interior de MG, do qual participou da infância à juventude.
Neste “ambiente cultural” , criado e administrado na verdade como bem delimitado universo no qual o mestre musical reinava absoluto – impondo regras, limites, exigências, ameaças, castigos físicos e recompensas - , Marcelo, além de – obviamente – aprender música, foi alvo da ação criminosa do dirigente que, em movimentos muito bem orquestrados (lentos e certeiros), enredou o garoto numa relação de domínio absoluto (moral, emocional e sexual), na qual o monstro extravasou sua perversidade.
Hábil em manipular a inexperiência e confusão do adolescente, a fera disfarçada de cordeiro (mas que era alvo de “reconhecimento” social pelo seu “trabalho relevante”) , lançou o jovem num trágico pesadelo de culpa e silêncio que resultou (já depois de ter abandonado o coral) num adulto torto, imperfeito, preconceituoso e “destruidor” (ele não conseguia manter a estabilidade das relações amorosas e familiares).
Nesta condição, Marcelo acaba num processo de “perda” (emocional e material) e tormento que culmina numa poderosa experiência extra- corpórea (e eu acredito 100 % nisto, pois passei por algo semelhante que foi um turning point definitivo (sic) na minha vida – e só quem vivencia isto acredita ), a partir da qual ele inicia sua dolorosa trajetória de reconstrução.
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Alternando trechos auto biográficos (indo da indignação ao “perdão”, passando por suas ações de denúncias perante a igreja e judiciário, com transcrições de reportagens sobre pedofilia na Igreja Católica e diversos comentários sobre o assunto (morais, sociais, psicológicos e jurídicos) , “Sem medo de falar..” é um libelo contra o abuso , contra charlatanice, contra a inoperância das autoridades e, sobretudo, um vigoroso alerta para este mal que se esconde muitas vezes nas mais respeitáveis instituições (igrejas, família, escola).
Livraço.
Entrevista com Marcelo aqui
No dia em que um lixo desses encostar numa criança da minha família e eu descobrir, não haverá denúncia, policia, lei ou justiça. Vou simplesmente espancar o vagabundo da maneira que ele merece, e transforma-lo em um exemplo, pra que esse lixo pense duas vezes antes de pensar em molestar outra criança.
ReplyDeleteOla, Paulo. Obrigado por comentar. Abc
ReplyDeleteVagabundo
ReplyDeleteEu enviaria uma vassoura no rabo desse padre
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