Monday, September 20, 2004

Consolo vazio...




“Aquele homem poderia ser o companheiro que lá no centro imune do meu desconsolo eu me acostumara a sentir sem esperar.”


Esta frase, retirada do último livro do João Gilberto Noll “(“Lorde”), aparece quando o personagem principal, um escritor gaúcho cujo nome não é revelado, é recebido, no aeroporto de Londres, pelo inglês que lhe havia oferecido uma bolsa de trabalho na Inglaterra. No momento da recepção, o escritor imagina rapidamente que seu anfitrião poderia ter sido o companheiro amoroso que ele buscou no passado e que agora sabe fazer parte da lista das impossíbilidades da sua vida.

Esta passagem me lembrou que a eterna e universal ação de busca e encontro da nossa metade emocional pode ser assumir diversas formas. Aqui, esta ação se apresenta de forma enviesada, torta, mas que, mesmo assim, traduz algum tipo de recompensa.

A frase diz que o escritor está imune dentro do seu desconsolo emocional. Esta afirmação evoca a idéia de criação de resistência contra algo que sabidamente faz mal. Resistência contra algo já experimentado, já tentado no passado e que resultou em dissabor. Agora o escritor está imune no seu isolamento, no seu silêncio. Isto significa que já não espera nada das relações; ele já teve sua cota de derrotas e agora está protegido contra qualquer aproximação. Porém, ao mesmo tempo mantém, dentro desta triste situação, uma sensação de presença vazia do companheiro querido, a qual, tem consciência, não se traduzirá jamais em realidade.

O escritor sabe que não há esperanças. O amigo virtual não se materializará, não o tocará jamais - viverá para sempre no impossível. Por isto ele mantém este amante idealizado confinado na carapaça dos seus sentimentos. Ele o mantém lá, a salvo de qualquer corrupção, de qualquer possibilidade de manchas. Seu amigo amado está salvo, preservado dentro de um "sentimento sem espera".

Um amor sonhado longe da putrefação do real e que resulta, de certa forma, em repouso ao seu coração.


3 comments:

  1. oi!
    gostei do post, mas minha mente não esta boa o suficiente pra escrever algo descente hj. morrendo de sono...
    eu quero o cd da dinda bju* sim, leva sabado fa festinha. apesar de oceania me deixar com medo!!

    beijos!!

    Mari
    *bjork.

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  2. Anonymous5:20 PM

    Iuri

    O melhor amor, aquele que fica para sempre é o platônico, o idealizado e não realizado.

    Ficará salvaguardado de todos os imprevistos que no cotidiano possam surgir.

    Um casal se conheceu e ele contou que estava separado fisicamente da esposa, e depois de um tempo, decidiram que iriam casar, mas para isso, ele teria que legalizar a situação dele e da esposa, tão logo o fizesse casariam.

    Pasme. A separação seria consensual e já com os papéis sendo entregue, devidamente assinados e na mão da advogada, ela disse a ele que o amava e ficou doente, assim como o filho do casal. Voltaram.

    Ele disse à "namorada" que a amava, mas que era por conta das circunstâncias que estava reatando o casamento.

    A moça desejou felicidades mas, disse-lhe que estaria presente na vida deles uma vez que a cada frustração ele lembrar-se-á do que jogou fora, ficará muitas vezes pensando como teria sido viver ao seu lado.

    Acrescentou que estará sempre presente, pois não viveriam o dia a dia quando sobram dias até o final do mês e falta dinheiro, quando a mulher tem TPM, quando ela lhe recusar o carinho, quando o cunhado pedir dinheiro emprestado, quando ela reclamar ou criticar o irmão dele, enfim, coube-lhe a melhor parte, a da lembrança e o "poderia ter sido".

    Agradeço muitíssimo pelo texto e também parabenizo pela escolha.

    Beijos

    Cris

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  3. Anonymous12:13 AM

    Oi, gostei da sua postagem.
    Olha, eu vou publicar amanhã, uma lista de blogs para meus leitores visitarem. Dentre eles, estará você. Dá uma passada lá e quem sabe vc goste de algum dos outros blogs publicados e acrescente mais coisas na sua vida...
    Abraços...
    Kleber Godoy
    www.teatrodavida.blig.com.br

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